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Como usar o FGTS para pagar o tratamento do autismo: Passo a passo e informações cruciais

  • Foto do escritor: Adv. Márcia Bohrer
    Adv. Márcia Bohrer
  • 12 de fev.
  • 6 min de leitura

"A vida dos pais de crianças com autismo muda no momento do diagnóstico. Terapias constantes, alimentação seletiva, medicamentos caros, adaptações no ambiente e a busca por intervenções eficazes se tornam prioridade. Para muitas famílias, o amor e a determinação de oferecer o melhor para os filhos andam lado a lado com desafios financeiros e emocionais que parecem insuperáveis.


Manter tratamentos contínuos, como terapia ABA, fonoaudiologia e acompanhamento médico, pode significar gastos que rapidamente extrapolam o orçamento familiar. É nesse cenário que o FGTS, muitas vezes esquecido ou desconhecido como recurso disponível, surge como uma oportunidade real de alívio financeiro.


Apesar disso, a Caixa Econômica Federal não libera o FGTS para crianças com autismo de suporte nível I e II, sob o argumento de que esses casos são "leves" e, por isso, não se enquadram nas condições previstas para o saque. Essa postura é absurda e discriminatória. Classificar um diagnóstico tão amplo e complexo como o autismo de forma simplista ignora as necessidades reais das famílias, que enfrentam desafios diários para proporcionar qualidade de vida a seus filhos.


Felizmente, a Justiça tem se posicionado contra esse entendimento restritivo da Caixa, reconhecendo o direito das famílias e autorizando o saque do FGTS para garantir os recursos necessários ao tratamento. Este texto vai explicar como você pode acessar esse direito e assegurar o suporte financeiro que sua família precisa para enfrentar os desafios do autismo.


Compreendendo o TEA - Transtorno do Espectro Autista


O TEA - Transtorno do Espectro Autista é uma condição complexa que afeta o neurodesenvolvimento e se manifesta de diferentes formas. Crianças com TEA podem apresentar desafios em áreas como comunicação, interação social e comportamento, além de necessidades específicas que variam de caso para caso. Essas características tornam indispensáveis os cuidados individualizados, com tratamentos e intervenções que muitas vezes envolvem altos custos.


Embora o autismo seja amplamente conhecido, há uma tendência equivocada de simplificar suas classificações. Os níveis de suporte - nível I, nível II e nível III - foram criados para orientar intervenções, mas muitas vezes são usados de forma inadequada para determinar a gravidade da condição. 


Esse é o caso da interpretação feita pela Caixa Econômica Federal, que considera crianças de suporte I e II como menos necessitadas de apoio financeiro, ignorando os custos e impactos reais que essas famílias enfrentam.


É importante entender que termos como "autismo leve" ou "moderado" não refletem a realidade vivida por muitas famílias. Uma criança com diagnóstico de nível I, por exemplo, pode necessitar de terapias contínuas, medicamentos e apoio educacional, o que gera um impacto financeiro significativo. Além disso, o rótulo de "leve" muitas vezes invisibiliza a necessidade de apoio da família e dificulta a obtenção de direitos fundamentais, como o saque do FGTS. 


E é por isso que é necessário lutar judicialmente contra esse tipo de interpretação. 


Por que o FGTS é um recurso essencial para o tratamento?


O FGTS é um direito do trabalhador, criado para garantir sua segurança em momentos de necessidade. Em situações específicas, como para tratamentos de saúde, é permitido o saque do saldo acumulado. Esse recurso, que pertence ao trabalhador, deve estar disponível para melhorar sua qualidade de vida e a de seus familiares, especialmente em casos que envolvem despesas médicas essenciais.


No caso do autismo, o uso do FGTS para custear o tratamento é autorizado, e isso não é à toa. O tratamento do TEA - Transtorno do Espectro Autista exige uma série de intervenções simultâneas e contínuas, como terapia ABA, fonoaudiologia, terapia ocupacional e suporte psicológico. Além disso, há custos com medicamentos, suplementos e até adaptações no ambiente domiciliar ou escolar, dependendo das necessidades da criança. Tudo isso representa uma carga financeira elevada, que muitas vezes é impossível de sustentar apenas com o orçamento familiar.


A possibilidade de acessar o FGTS é, para muitas famílias, a única forma de garantir que essas intervenções não sejam interrompidas. O impacto positivo dessa liberação vai além do financeiro: permite que pais e mães concentrem sua energia no que realmente importa - o bem-estar e o desenvolvimento de seus filhos.


Quem tem direito ao saque do FGTS para o tratamento do autismo?


Hoje, a Caixa Econômica Federal só permite que pais de crianças com autismo de nível III de suporte (considerado mais grave) façam o saque do FGTS de forma direta, sem precisar recorrer à Justiça. Para crianças de nível I e II, os pais precisam buscar o apoio do sistema judicial para ter acesso a esse direito. Essa situação é desanimadora e injusta, já que as despesas com terapias, medicamentos e outros tratamentos também são muito altas nesses casos.


Se você precisa entrar na Justiça, é importante ter toda a documentação necessária em mãos. Esses papéis ajudam a comprovar a condição do seu filho ou filha e mostram como o dinheiro do FGTS será usado para garantir o tratamento. Aqui está o que você vai precisar:


Relatório médico atualizado: Um documento assinado pelo médico que acompanha seu filho, explicando o diagnóstico, a situação da criança e a necessidade das terapias ou medicamentos recomendados.

Recibos e comprovantes de gastos: Guarde tudo o que já foi gasto com terapias, remédios ou outros tratamentos para mostrar à Justiça os custos reais que você tem enfrentado.

Extrato do FGTS: Um documento da própria Caixa que informa quanto dinheiro você tem disponível para saque.

Documentos pessoais: Cópias do RG, CPF e da certidão de nascimento ou outro documento que comprove que você é pai, mãe ou responsável pela criança.

Laudos extras: Se seu filho precisa de medicamentos caros ou está matriculado em terapias específicas, inclua esses relatórios para reforçar a necessidade de acesso ao FGTS.

Negativa da Caixa (se houver): Se você já tentou pedir o FGTS na Caixa e foi negado, inclua esse comprovante no processo.

Organizar essa documentação antes de entrar com o pedido judicial pode acelerar o processo e aumentar as chances de sucesso. Muitos juízes entendem a urgência desses casos e concedem decisões rápidas, principalmente quando tudo está bem explicado.


Tempo de espera e decisão rápida: O que esperar ao recorrer à Justiça


Pensar em entrar na Justiça pode trazer insegurança. Você pode se perguntar: "Será que vou ter que esperar muito? E se eu perder e ficar com todo o prejuízo?" Esses receios são compreensíveis, mas, felizmente, o risco de não conseguir o saque do FGTS para o tratamento do autismo é muito baixo.


Os tribunais brasileiros têm sido bastante favoráveis aos pais de crianças autistas, independentemente do nível de suporte. A Justiça entende que o autismo, em qualquer grau, exige tratamentos que impactam financeiramente as famílias, e que o FGTS existe justamente para ajudar nessas situações.


Além disso, há a possibilidade de obter uma decisão rápida, conhecida como "liminar", que é uma autorização provisória enquanto o processo ainda está sendo analisado. Essa medida permite que você tenha acesso ao dinheiro do FGTS sem precisar esperar o final do processo, o que pode levar meses ou anos. Muitas vezes, essa decisão sai em poucos dias ou semanas, o que já garante o suporte financeiro necessário para dar continuidade ao tratamento do seu filho.


Porém, para garantir que tudo corra bem e que suas chances de sucesso sejam as melhores possíveis, é essencial contar com a ajuda de advogados especializados no assunto. Esses profissionais sabem exatamente quais documentos são mais importantes, como apresentar o caso à Justiça e como acelerar o processo.


Entrar na Justiça pode parecer um caminho difícil, mas com o apoio certo, ele se torna muito mais simples e eficiente. Afinal, o mais importante é garantir que você tenha os recursos necessários para cuidar do seu filho da melhor forma possível.


Conclusão: Um direito que pode transformar a vida do seu filho


Ser pai ou mãe de uma criança com autismo é uma jornada única. Cada conquista, cada pequeno progresso é celebrado com amor, mas os desafios também são reais e, muitas vezes, pesados. As terapias, os cuidados, as noites pensando no que mais pode ser feito para ajudar seu filho. Tudo isso exige não apenas dedicação, mas recursos que nem sempre estão ao alcance.


O FGTS pode ser a resposta para muitas dessas preocupações. É um dinheiro que está lá, guardado, fruto do seu trabalho, e que pode ser usado para algo tão importante: a saúde e o bem-estar do seu filho. Ele pode ajudar a manter as terapias, pagar os medicamentos e oferecer as condições que sua família precisa para enfrentar os desafios com mais tranquilidade."


Fonte: Migalhas. Acesse notícia original aqui.

 
 
 

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